domingo, 9 de dezembro de 2018

Legenda de um quadro - A Resposta, J W Godward - 1917



A imagem pode conter: uma ou mais pessoas e atividades ao ar livre

Sobre banco marmóreo de carrara
Assenta-se, o porte altivo e divinal
Excelsa expressão da forma rara
Da estética monumento perenal!

Dos cabelos, as mechas que trançara
Ornam-lhe a livida face senhorial
A púrpura com que se engalanara
Ocultam-lhe o corpo escultural

A delicada mão porta o estilete
Da outra pende áurea tabuleta
A fisionomia denota placidez...

Ela cogita, sem dúvida reflete
E na paisagem idília e obsoleta
A uma pergunta responde talvez.

domingo, 13 de julho de 2014

Raquel



Sete anos de pastor Jacob servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
Mas não servia ao pai, servia a ela,
E a ela só por prêmio pretendia.

Os dias, na esperança de um só dia,
Passava, contentando-se com vê-la;
Porém o pai, usando de cautela,
Em lugar de Raquel lhe dava Lia.

Vendo o triste pastor que com enganos
Lhe fora assi negada a sua pastora,
Como se a não tivera merecida;

Começa de servir outros sete anos,
Dizendo: – Mais servira, se não fora
Para tão longo amor tão curta a vida!
Camões

sábado, 5 de julho de 2014

Um filme...




Eu vi o filme de Pompéia e achei tão triste
Tão triste, melancólico e real
cópia no entanto exata e fiel
Nesta natureza de tudo quanto existe


Quantas vezes até o 'fim' o mal resiste???
neste mundo terrestre e surreal
quantas vezes prevalece ele no 'final'
O amor porém vence e persiste...

Sim devemos crer que o amor
Ultrapassa todos os limites e barreiras
O mal, a morte, a aflição... Temor...

Crer devemos nós que sob mil maneiras
ultrapassado o termo da humana dor
prevalece ele em plagas altaneiras!!!


Epifânio Queiroz 

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Alma minha gentil, que te partiste






Alma minha gentil, que te partiste 
Tão cedo desta vida descontente, 
Repousa lá no Céu eternamente, 
E viva eu cá na terra sempre triste. 

Se lá no assento Etéreo, onde subiste, 
Memória desta vida se consente, 
Não te esqueças daquele amor ardente, 
Que já nos olhos meus tão puro viste. 

E se vires que pode merecer-te 
Algũa cousa a dor que me ficou 
Da mágoa, sem remédio, de perder-te, 

Roga a Deus, que teus anos encurtou, 
Que tão cedo de cá me leve a ver-te, 
Quão cedo de meus olhos te levou. 


Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"

quinta-feira, 3 de julho de 2014






"Anda depressa, ó Sol, que estás parado!
Que fazes tu aí, Sol imprudente?"
Este maldito Sol, ultimamente,
tem se tornado o meu maior cuidado!  

Essa que eu amo, mora num sobrado,
e o Sol, que a quer também, pára-se em frente:
e até que o Sol se canse e, enfim se ausente;
a janela é deserta, e eu, desolado.  

"Sol, vai-te embora!" E, quando o Sol vai indo,
e Ela aparece, eu desespero, e grito,
por ver a noite. que já vai caindo:  

"Sol, pára um pouco!..." E o Sol, sem me escutar,
se esconde, enquanto eu lhe suplico, aflito:
"Sol! por favor, ó Sol! vai devagar!..."


Marcelo Gama

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Estela e Nize






Eu vi a linda Estela, e namorado
Fiz logo eterno voto de quere-la
Mas vi depois Nize e a achei tão bela
Que merece igualmente meu cuidado

A qual escolherei, se neste estado
Não posso distinguir Nize de Estela
Se Nize vir aqui, morro por ela;
Se Estela agora vir, eis-me inflamado

Mas ah que aquela me despreza amante
pois save que estou prezo a outros braços
E esta não me quer por inconstante.

Vem, cupido, soltar-me destes laços;
Ou faz de dois semblantes um semblante
Ou parte meu coração em dois pedaços!!!

Alvarenga Peixoto